Uma alegoria simbolizando a Poesia - Corolarium Cap. LXIV

PDF por Nova Ordem de Jesus. 08/05/2016 - 16 min leitura
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Uma alegoria simbolizando a Poesia. — A Inspiração, a Graça e a Beleza reunidas numa escultura. — Uma homenagem à Verdade. — Outra escultura simbolizando a Mentira: crustáceo, ofídio, ou outro animal horrendo? — Feio, traiçoeiro, horrendo mesmo.

A Exposição de belas-artes que estamos visitando, almas queridas, não é um certame improvisado neste plano espiritual, mas um acontecimento periódico, muito apreciado pelas almas amantes deste gênero de trabalhos elaborados por Entidades de apurado gosto artístico. A Exposição é realizada anualmente e a ela concorrem estas duas categorias: os chamados artistas de tradição, e os artistas novos, muitos dos quais comparecem pela primeira vez com os seus trabalhos. Há aqui o setor dos novos, como é designado, e este que estamos percorrendo onde se apresentam os trabalhos elaborados pelos artistas de tradição. Vamos prosseguir então em nossa visita ainda ao setor da escultura, a fim de apreciar outros trabalhos, em companhia desta bela alma que gentilmente nos serve de cicerone.

— O que deveremos visitar agora, bela alma?

— Temos tantos e tão belos trabalhos, Alma Excelsa, que o mais difícil é escolher os melhores. Apreciemos então este conjunto. É uma alegoria simbolizando a Poesia. O artista imaginou simbolizar a Poesia nestas três belas figuras de mulher, de uma confecção primorosa, como vêem. Esta que se encontra no alto do conjunto representa a Inspiração. A segunda colocada um pouco abaixo, portanto em segundo plano, representa a Graça; e esta terceira, colocada no mesmo plano, representa então a Beleza. Quer o artista significar que a Poesia para ser autêntica deve possuir a Inspiração, a Graça e a Beleza. É esta a concepção plasmada neste belo conjunto de três almas femininas, com o objetivo de traduzir o seu pensamento a respeito da Poesia.

Vede, almas queridas, o que o artista entende necessário à verdadeira Poesia: Inspiração, Graça e Beleza, no que eu estou de inteiro acordo. Efetivamente, para alguém expressar sentimentos poéticos, que são próprios das almas refinadas, necessita de traduzi-los de maneira que neles se encontrem essas três características, que eu denominarei aqui de divinos dons. Alguém fazer Poesia, é penetrar mentalmente nos planos mais elevados da vida universal, nos quais possa receber os divinos dons da inspiração, da Graça e da Beleza, traduzido-os então segundo o seu estado d’alma. A Poesia que conheceis neste mundo terreno pode ser considerada ainda no seu estado infantil, salvo raros momentos poéticos vividos aqui por algumas almas bem dignas dessa consagração. A arte poética é cultivada nos planos superiores do mundo espiritual em tão elevado grau de refinamento, como não podereis imaginar enquanto viverdes na Terra. Se tempo houver em nossa estada atual nesta Exposição eu terei grande alegria em vos conduzir ao Palácio da Poesia, onde tereis a ventura de entrar em contato com as mais belas concepções poéticas. Lá se reúnem diariamente as almas mais devotadas a este importante setor da expressão humana, estudando cada qual o seu ramo predileto segundo a forma e refinamento artístico. Comparecem lá igualmente em grande número almas desejosas de conhecer de perto as belas obras poéticas ali expostas, e também para se deleitarem com a declamação de importantes momentos poéticos pelas almas mais categorizadas que comparecem. O Palácio da Poesia é talvez um dos monumentos mais visitados no mundo espiritual pelas almas mais aprimoradas, e a tal ponto, que nos dá em certos dias a impressão de se estar realizando ali alguma festividade, tão grande é o número de almas presentes. Resulta deste interesse assim demonstrado pelas almas do Além no conhecimento dos mais belos momentos poéticos, como costumamos designar os trabalhos produzidos pelos poetas do Além, que o sentimento da poesia vai penetrando em todas as almas para se manifestar a seu tempo em novas expressões desta bela arte.

Em princípio podemos considerar que uma alma encarnada que se demonstre cultora ou aficionada da arte poética, já alcançou um grau assaz elevado de refinamento espiritual que lhe permite penetrar naquele plano, onde moram estas três figuras tão bem plasmadas neste conjunto que estamos apreciando: a Inspiração, a Graça e a Beleza, cujo semblante, como vedes, é todo alegria. Uma alma encarnada, por conseguinte, possuidora de determinado grau de refinamento espiritual encontra maior ou menor facilidade em se expressar através da poesia, como tereis podido constatar entre pessoas vossas conhecidas. Mas vamos prosseguir na visita. Eu desejei fazer o comentário que aí fica com o objetivo de chamar a vossa atenção para este detalhe da vida: as almas devotadas ao cultivo da poesia, e que já conseguem expressar através dela as suas idéias, são almas já em fase adiantada de refinamento espiritual, e bem próximas da sua redenção.

Prossigamos, porém, almas queridas. Vejamos esta bela escultura que parece feita de prata brilhante, tão bela se nos apresenta. Ouçamos a nossa bela cicerone.

— Esta escultura, Alma Excelsa, representa a homenagem do artista à verdade, segundo a sua concepção. O autor concebeu expressar assim a Verdade, construindo esta figura brilhante assim prateada, para significar o que ele acredita ser realmente a Verdade. Na concepção do artista a Verdade deve ser clara e brilhante, sem a menor nuança, para que não haja o menor sofisma na sua expressão. Escolheu também esta figura de mulher para expressar a Verdade, em homenagem ao sexo feminino. Também preferiu esta coloração prateada por lhe parecer mais adequada e ao alcance de todas as posses humanas. Esclareceu o artista que a Verdade bem merecia aparecer esculturada no metal mais caro, que houvesse, em face de ser ela própria a expressão mais preciosa na vida de todas as almas do Universo. Considerou, porém, que se assim procedesse, fixando o símbolo da Verdade em metal muito caro bem merecido, aliás, ele colocaria a Verdade unicamente ao alcance das classes mais abastadas, ou seja, dos ricos, quando a Verdade deve prevalecer tanto nas classes ricas como nas classes pobres. E concluiu então o artista por construir em prata este símbolo da Verdade que aqui está.

— Magnífico, minha  filha! Estamos encantadas com a interpretação que nos dás, da concepção do escultor da Verdade.

Por minha  vez vos direi, almas queridas, que concordo inteiramente com a concepção do artista, pois que a Verdade deve ser situada em todos os setores da vida, assim como deve constituir o ornamento espiritual de todas as almas. Uma alma que estabeleça como norma de sua vida a Verdade, e que à mesma se filie em todos os seus atos, esta alma pode ter a certeza de poder realizar a sua caminhada terrena livre dos escolhos tão comuns a quantos se afastam dos sãos princípios da Verdade. Uma alma amante apaixonada da Verdade pode considerar-se livre da prática de atos capazes de afastá-la desse belo princípio, e de caminhar assim em linha reta em direção ao seu desejado progresso espiritual. Construindo o artista a Verdade numa estátua de prata ou apenas prateada, ele imaginou muito acertadamente colocar esse belo princípio ao alcance de todos, como de fato assim deve ser. Sobre a necessidade de estabelecerem todas as almas o princípio da Verdade como norma de vida terrena, muito ainda pode ser dito no interesse geral. Assim, por exemplo, uma criatura amante da Verdade jamais concordará na prática de um ato contrário a esse belo princípio, ainda pela circunstância de não poder mencioná-lo em determinado e imprevisto momento, porque poderia ter necessidade de negar esse ato, com o que estaria faltando à Verdade. Desta maneira, para que uma tal circunstância não surja em vossa vida, almas queridas, o melhor, como vedes, é praticar só e exclusivamente os atos confessáveis em perfeita homenagem ao belo princípio da Verdade. Creio que podemos prosseguir.

— Bela alma, o que de importante terás para nos mostrar em seguida?

— Depois deste símbolo da Verdade, podemos apreciar este outro trabalho do mesmo autor da Verdade: é o símbolo da Mentira. Eis o que o artista concebeu para simbolizar a Mentira em forma de escultura. Bem vejo o horror que o objeto vos causa, Alma Excelsa. Ele é realmente o trabalho mais horrendo que há nesta Exposição. É difícil, como vêem, definir com precisão se se trata de figura humana ou de bicho. Ao contrário da Verdade aqui ao lado que é de prata brilhante, a Mentira é deste negro arroxeado difícil de definir. A figura imaginada pelo artista também se torna difícil de identificar se é crustáceo, ofídio, ou outro animal horrendo nesta atitude que nos leva a traduzir uma expressão traiçoeira, disposta a nos assaltar. Explica o artista que contra os assaltos da Mentira, sempre traiçoeiros, imprevistos, devemos conservar-nos permanentemente prevenidos. A Mentira é tão má, tão hipócrita e insidiosa em suas manifestações, que devemos manter-nos em harmonia com a Verdade, para derrotarmos a Mentira sempre que a mesma tente assaltar-nos. Esta é a interpretação do próprio artista ao idealizar este horrendo símbolo da Mentira.

— Eu te agradeço, sensibilizada, minha  filha, a tua interpretação tão clara deste trabalho, realizado mesmo assim horrendo para nos afastar sempre dos assaltos da Mentira.

Vede, então, almas queridas, a grande diferença imaginada pelo artista, que deve ser uma alma de grande refinamento, entre os aspectos de dois sentimentos humanos: e que traduz a Verdade, límpida, prateada, brilhante, e este outro que simboliza a Mentira, feio, horrendo mesmo, caracterizado por esta figura indefinível de animal em atitude de nos atingir de modo imprevisto, traiçoeiro. Livrai-vos, pois, da Mentira em todas as circunstâncias, almas queridas, deste bicho terrível que aqui se nos apresenta, ora como ofídio ora como crustáceo, ou outro semelhante, nesta atitude de bote a qualquer instante sobre a alma desprevenida. Ficareis então sabendo que só a Verdade vencerá a Mentira, por mais alentada e poderosa como possa apresentar-se. E se vos apoiardes diariamente na Verdade em seus vários aspectos, certas estareis então, almas queridas, de que vos não atingirão jamais os botes traiçoeiros da Mentira. E no dia em que todas as almas encarnadas se tornarem cultoras sinceras da Verdade, desaparecerá então, perecerá de inanição, a traiçoeira e detestável Mentira da superfície terrena. Isto acontecerá muito breve, em face do nível moral e espiritual das almas que estão sendo selecionadas no Alto para encarnar na Terra, e também em face de muitas outras que já aqui se encontram.

Gostaria de estender o meu comentário neste sentido a vários outros aspectos condenáveis da Mentira no ambiente terreno, porém o coração me diz que cada uma de vós, almas que eu muito amo, vos encarregareis de os descobrir ao longo das vossas atividades. Conveniente me parece entretanto, frisar um ponto que deve merecer a vossa melhor atenção, que é educação dos vossos filhos. Procurando incutir neles o princípio da Verdade e o repúdio à Mentira, desde que comecem a entender as palavras e as coisas, estareis fazendo-lhes um grande bem, porque plantando a boa semente em terreno no qual a mesma deverá frutificar abundantemente. E mais tarde, quando puderdes testemunhar tão belos frutos plantados por vós, haveis de sentir brilhar em vossas almas a recompensa do Senhor em luzes e bênçãos pela bela sementeira que soubestes fazer no devido tempo. Uma boa parte dessa recompensa vos chegará inclusive dos vossos próprios filhos, ao recordarem as vossas palavras em sua infância, fazendo dos mesmos novos cultores da Verdade.

Convém terdes também em vista o fato muito comum nesta altura do século, de estarem encarnando almas não raro de maior evolução do que as dos próprios pais, e portanto aptas a compreender e assimilar de pronto os ensinamentos que ouvirem, tanto de ordem material como de ordem moral, entre estes o do culto apaixonado da Verdade. Mais tarde, ao recordarem em sua memória física o belo ensinamento recebido no lar, eles se demonstrarão agradecidos aos pais, emitindo vibrações que o Senhor transformará em outras bênçãos e luzes para os progenitores. Como o tempo de que hoje dispomos está a findar-se, não nos permitindo ir mais adiante, atentemos um pouco mais nestas duas interessantes esculturas, sobretudo nesta da Verdade, tão agradável ela se torna à nossa contemplação. Vejamos a delicadeza da imaginação do artista, na concepção deste belo símbolo da Verdade, mas igualmente na perfeição do trabalho que aqui nos apresenta. Esta linda figura de mulher de fisionomia tão simpática que parece cumprimentar-nos num sorriso apenas ensaiado, bem reflete o sentimento mais aprimorado na imaginação do artista. Os cabelos assim deixados cair com esta simplicidade, traduzem bem a ausência de preocupação quanto à expressão da própria Verdade, que deve ser simples, exata, sem artifícios. Assim deve ser encarada, portanto, a expressão da Verdade em todas as circunstâncias da vida humana: exata, simples, livre de artifícios, para poder ser aceita e acreditada. A Verdade sem artifícios é, por assim dizer, a Verdade verdadeira, a Verdade pura, aquela que não pode sofrer qualquer contestação. É assim, minhas almas queridas, que o Senhor deseja ver as almas encarnadas proceder em sua vivência na Terra, apenas preocupadas com o que é bom, puro e santo, como a própria Verdade. Repousemos então por hoje para voltarmos aqui amanhã a fim de prosseguir nesta agradável visita às belas-artes; onde tanto temos logrado aprender no exame dos trabalhos expostos. Até amanhã, pois, minhas almas queridas.

Deixo-vos aqui a bênção que o Senhor vos envia por meu intermédio, e a minha própria que eu vos ofereço de todo coração.

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