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por Nova Ordem de Jesus. 28/04/2016 - 37 min leitura
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Manifesta Jesus o perfeito direito que lhe assiste para ser julgado pelo que ele verdadeiramente disse e não permite à médium a menor troca de suas palavras e tampouco a quem quer que deva intervir na publicação delas. Ocupa-se depois da legislação judaica puramente religiosa e da civil. Refere-se ao inexorável da primeira e das intrigas dos fariseus para perder a seus adversários. A Jesus muitas vezes eles haviam armado laços e ele increpava-os duramente. Em suas pregações, à medida que a ira e a perseguição dos sacerdotes ia precipitando a data de sua condenação, ele demonstrava maior brio em sua propaganda e mais rigor nos ataques contra o Clero e os magnatas, que abusavam torpemente de suas posições, contra as teorias democráticas do Mestre, que queria a igualdade e a fraternidade dos homens.
Irmãos meus, revelando as causas de minha condenação e os juízos errôneos de meus atos, desejo que minhas palavras não sejam defendidas, a não ser por mim somente; é preciso, pois, deixá-las tal como as exponho.
Honremo-nos com o nosso respeito para as ordens de Deus, não procuremos nem facilitar a admiração dos homens nem diminuir a maliciosa pretensão de alguns dentre eles. Que unicamente o escritor seja o responsável. À depositária de minha narração, não lhe permito nenhuma adição ou correção. A todos os que formulem suas dúvidas e à vontade séria de se iluminarem responderei eu mesmo.
Sede os discípulos dóceis do enviado de Deus. Suavizai sua repentina aparição em meio de um mundo frívolo e cético atribuindo sua aliança com os espíritos cuja luz vós outros haveis já demonstrado; mas não altereis nada em seu modo de apresentar os acontecimentos. A vida de Jesus deve ser precedida de comentários humanos, para explicar o pensamento que presidiu a esta obra divina, e deve ser separada de toda a comunicação que não seja do mesmo espírito.
Passemos ao exame dos motivos de minha condenação.
“Eu tinha facilitado as sedições populares, fazendo cair sobre os sacerdotes suspeitas de inteligência com os pagãos.”
Sim, eu me havia associado a uma multidão de revolucionários, cujo objetivo comum, idêntico ao meu, não excluía intenções culpáveis e perigosos excessos.
Porém, já o invasor se cansava nas repressões das sublevações, como na sanção dos juízos do tribunal sagrado. O direito político se estabelece sobre o direito humano; os cargos, os empregos, fizeram-se acessíveis a todas as capacidades, e as facções se enfraqueceram pouco a pouco sob um governo mais cuidadoso do bem geral. Tão-somente o elemento religioso começou a semear a desordem nos espíritos. O caráter eminentemente dominante do Grande Sacerdote criava numerosos inimigos ao poder sacerdotal; mas estes inimigos, divididos pela espionagem, empregavam suas forças em revoltas parciais, que atraíam sobre si sangrentas represálias, resultando inúteis para a obra definitiva. Por prudência, Hanan foi deposto, porém continuou exercendo sua influência durante o pontificado de Caifás, seu genro. Nas discussões dos artigos da lei, o princípio religioso, sobre o qual descansava a mesma lei, era inexpugnável. Os chefes de escola encontravam numerosos opositores, cujo objetivo era o de conduzi-los para a negação e os fariseus sobressaíam neste infame ofício. O Sinedrim, tribunal sagrado, julgava os delitos de lesa-majestade divina. Todas as infrações referentes à lei civil ficavam dentro do círculo de atribuições dos tribunais ordinários. As penalidades ressentiam-se da diferença estabelecida entre os delitos religiosos e os delitos previstos pela constituição do Estado. O fanatismo tinha que demonstrar-se mais desapiedado que o princípio da ordem social. Uma lei decretada pelo poder romano castigava com a morte ao assassino e ao bandido armados; porém sucedia freqüentemente que circunstâncias habilmente aproveitadas pela defesa desviassem da cabeça do culpado a terrível expiação.
Ante os príncipes dos sacerdotes e dos fariseus toda a sublevação ostensiva contra as prescrições do culto mosaico tinha por conseqüência a morte. A lei era precisa, inexorável. Nas causas maiores, aos sessenta príncipes dos sacerdotes, fariseus e doutores da lei que compunham o Sinedrim, agregavam-se alguns membros suplementares.
Chamavam-se príncipes aos sacerdotes nobres de nascimento ou reconhecida capacidade exercida de longa data (enobrecimento).
O farisaísmo era uma seita piedosa e respeitável em aparência, hipócrita e depravada na realidade. Os doutores da lei representavam a casta mais erudita e mais inteligente da nação judaica. Dividiam entre si as funções difíceis do apostolado e da magistratura sagrada. No templo eles exerciam a verdadeira autoridade, porquanto os sacerdotes não eram mais que servidores autômatos, mais propensos às honras mundanas e aos gozos materiais, que desejosos das prerrogativas da ciência e da virtude. Nas sinagogas os doutores da lei faziam preceder suas conferências de algumas incitações para a curiosidade, que se referiam a tais ou quais personalidades. Na vida privada davam conselhos e na vida pública davam demonstrações de suas crenças com eloqüentes discursos. As funções da magistratura sagrada os submetiam aos deveres de juízes, de acusadores1 e de defensores. O prestígio de seu talento estabelecia convicções2 e a marcha dos processos dependia unicamente deles.
Irmãos meus, as participações de Jesus nas sublevações populares, que tiveram lugar quando tinha vinte e quatro anos de idade, foram uma conseqüência de sua educação e das idéias religiosas que ele se empenhava em erigir como uma doutrina.
Jesus era revolucionário porque dizia: “Os poderes da Terra são mantidos pela ignorância das massas”.
Mas Jesus havia bebido o princípio democrático que o fazia agir no princípio divino das alianças celestes; mas o democrático Jesus queria a igualdade e a fraternidade entre os homens porque os homens são iguais diante de Deus, que é seu Pai; mas o democrático Jesus professava o desprezo pelas honras mundanas, porque essas honras paralisam as manifestações que adquirem as honras espirituais, porque apoiava o elevado destino do espírito sobre os deveres que incumbem a este espírito, em sua marcha ascendente.
O revolucionário Jesus combatia a opressão, porque a opressão é contrária à lei de Deus; porém, ordenava o perdão, porque o perdão encontra-se na lei de Deus. O revolucionário Jesus amava os pobres, porque os pobres eram para ele irmãos desgraçados, compadecia-se dos ricos, porque os ricos eram para ele irmãos extraviados.]
O democrático Jesus dizia:
“Os poderosos deste mundo serão os párias do outro mundo”.
E dizia também:
“Amai-vos uns aos outros e meu pai vos amará. Na casa de meu pai não há pobres nem ricos, nem patrões, nem servidores, senão espíritos, cuja ciência aperfeiçoará sua própria virtude”.
Aplicai, irmãos meus, as palavras de Jesus e sede revolucionários como eu; é uma cousa heróica o sê-lo.
Povos e governos de povos, deponde as armas e refleti finalmente no objetivo da existência temporal.
Infelizes envilecidos, tenebrosos negadores da Providência divina, levantai-vos e adorai a Deus! Ricos, honrai a pobreza, e vós outros, pobres, não invejeis as riquezas.
O poder e a grandeza humana fazem decair o espírito não penetrado do poder divino e das grandezas espirituais. A adversidade eleva o espírito que reconhece a justiça de Deus. O espírito não pode adquirir a força senão por meio das provas da vida corporal; o espírito forte torna-se em pouco tempo digno da glória de Deus.
Expliquemos, irmãos meus, o caráter e o valor do delito do desvio do culto divino imputado a Jesus. Desde tempo imemorial, o culto divino é uma mistura de supersticiosas devoções e interessadas mentiras. Desde tempo imemorial, têm existido homens que têm demonstrado em nome de Deus que a razão deve submeter-se a todos os erros grosseiros do sentido intelectual, para a edificação de tal ou qual doutrina religiosa. Desde tempo imemorial, a força suprime o direito, a noite devora a luz, e a ajuda de Deus é invocada pelos assassinos e pelas trevas.
Deus é imutável. Novas sementes enchem o vácuo; a luz se reproduz no meio das trevas; e a vida gerada pela morte, a luz vitoriosa sobre a noite, depositam sobre a superfície de um mundo os vivos do Senhor, os lutadores das verdades eternas. Isto deve suceder, isto sucede e chama-se progresso.
Todas as humanidades atravessam pelas fases da infância no meio de horizontes nublados, todas as humanidades distanciam-se do objetivo e se detêm indecisas; porém, então, luzes repentinas iluminam o caminho, o caminho volta a ser empreendido e a verdade prepara seu reino definitivo, sob os olhares e o apoio de Deus.
Jesus devia a preceptores ilustres seus primeiros estudos sérios e tinha amadurecido seus meios de aperfeiçoamento, com profundas meditações. Jesus devia a inspirações secretas, honradas por demonstrações palpáveis, a revelação de sua missão divina, e ajoelhava-se sobre o limite da pátria celeste para escutar as ordens de Deus; com o pensamento, voava por cima dos séculos de ignorância para facilitar aos séculos seguintes a luz e a felicidade. O espírito, chegado ao desenvolvimento moral e intelectual, permanece fiel às convicções adquiridas por ele mesmo, até que a ciência de Deus lhe dê a imortalidade da força e o impulso do fanatismo para sacrificar o presente ao porvir, para preparar o por-vir com o preço das mais amargas desilusões humanas. O espírito desenvolvido em um mundo carnal designa um Messias e este Messias não pode fugir da perseguição senão desertando da causa a cujo amparo se tenha dedicado. Desprezando a morte corporal, o espírito adiantado no caminho da perfectibilidade, fraqueja também diante dos assaltos dos seres inferiores, e sua confiança enganada, seu amor mal correspondido pesam-lhe como remorsos.
Permaneçamos, irmãos meus, na crença absoluta das forças individuais, desenvolvidas com o exercício da vontade. Permaneçamos na afirmação da justiça de Deus, seja que ela se estabeleça com provas ou com benefícios, porém afirmemos sobretudo com energia, a liberdade dada ao homem, quer quando ele luta contra as pressões desorganizadoras da alma, quer quando ele tenha que combater principalmente contra as manifestações tumultuosas da ignorância e do ódio. O espírito adiantado desliga-se das dependências humanas e alimenta-se das forças de Deus, à medida que são melhor compreendidos o nada da matéria e a extensão das possessões espirituais.
Justiça de Deus, glória a ti, tu és explicável e tudo explicas. Justiça de Deus, honra aos que te dedicam sua coragem e sua resignação; eles marcham pela via afortunada do engrandecimento da dignidade do espírito.
Jesus, irmãos meus, tinha consciência de seus atos e a força de sua sincera natureza, quando acusava os sacerdotes e os fariseus.
Compenetrado do respeito pelo culto divino, porém contrariado em seu respeito pela avidez e arrogância dos ministros desse culto, pela hipocrisia oficial de uma seita religiosa com grande poder, Jesus procurou na mesma origem do culto e na inexata ponderação dos deveres humanos, as verdadeiras causas da dissolução moral e das vergonhas intelectuais que ele ia notando. Nesta investigação Jesus viu-se ajudado por trabalhos anteriores aos seus e por ligações novas ou renovadas na vasta associação dos espíritos e dos mundos. Jesus absteve-se a princípio de investigar os mistérios da religião mosaica, depois deixou-se arrastar por opiniões que correspondiam ao seu sentido moral; logo depois, circunstâncias cada vez mais favoráveis à sua missão abriram-lhe o caminho entre os escombros que ruíam e as pedras brutas do porvir.
Jesus compreendeu que era necessário conservar alguns vestígios do passado para não encontrar obstáculos à sua tarefa de construtor; mas a miúdo faltava-lhe a paciência e dizia:
“Não se podem fazer roupas novas com panos velhos”.
Jesus adorava a seu pai em espírito e em verdade, e quando o povo ignorante pedia-lhe explicações, respondia:
“Deus não tem senão desprezo para os oferecimentos e para as práticas exteriores, quando não as acompanham a virtude e a força dimanada da ciência.
“Deus proíbe o orar somente com os lábios, e os que entram em uma sinagoga com o coração cheio de ódio e com as mãos sujas pela rapina e o sangue, merecem o castigo de Deus.
“Permanecei humildes e pacientes sob o peso da vida mortal. Amai-vos uns aos outros, libertai vossa alma dos laços vergonhosos, vossos espíritos das ambições injustas, e tereis servido a Deus e Deus vos abençoará neste mundo e no mundo que para vós outros sucederá a este.
“Deus quer vossos corações por templo; adorai a Deus no templo por ele escolhido.
“As funções do culto põem em evidência, as mais das vezes, a incapacidade, a vaidade e a hipocrisia.
“A adoração interna conduz sempre o espírito pelo caminho da simplicidade, da doçura, da sabedoria.
“Vós podeis orar juntos, porém não façais pompa com vossas orações e não mistureis as pompas mundanas com as cousas de Deus”.
Irmãos meus, Jesus explicava Deus com a elevada inteligência que de Deus lhe vinha, porém bem sabia que não podia preservar-se dos ódios e vinganças dos que ele acusava por seu orgulho e picardias, dos que estavam compreendidos em suas demonstrações.
Jesus definia o amor como o grande motor da religião universal, e ensinava a igualdade dos espíritos, a comunidade de seus interesses perante Deus, o desenvolvimento, o emprego das faculdades pensantes. Combatia portanto os poderes fundados sobre o desprezo das leis de Deus e a imobilidade do espírito decretada por estes poderes.
As religiões baseadas sobre a divindade de Jesus, do mesmo modo que todas as doutrinas alheias a essas religiões, estão impregnadas de defeituosas apreciações a respeito de Deus. Para que uma religião seja a fonte definitiva da felicidade humana, é necessário que ela seja a conseqüência da própria razão, essência de Deus. Façamo-nos novamente fortes com a enunciação do elemento constitutivo da razão divina e da razão humana em sua pureza.
A razão divina é a preponderância do amor na obra da criação. A razão humana, firmemente estabelecida, é a emulação do amor que o Criador espalha sobre a criação. A justiça divina é uma conseqüência do amor divino; os efeitos desta justiça demonstram o infalível raciocínio de um poderoso trabalho de concepção infinita.
Que os mundos formados para determinadas categorias de espíritos, recebam outros mais desmaterializados que o que comporte a generalidade; que as moradas humanas abriguem, de tempos em tempos, luminosas inteligências; que as provas carnais representem uma cadeia contínua de intermitências de repouso e de espantosas catástrofes, que importa, desde o momento que a justiça de Deus é a que resolve e é o amor que dita sua justiça! Que importa, desde o momento que os Messias expressam o amor de Deus para todas as inferioridades e que os sofrimentos humanos representam atos de reparação para a justiça de Deus.
Jesus, já o disse, fustigava os poderes estabelecidos pelo esboroar das consciências e pelo abuso da força e encontrava em si o mais ardente patriotismo da alma, para abater todos os despotismos e para compadecer-se de todas as misérias da Humanidade. Mas os inimigos de Jesus afirmavam que ele havia atacado o dogma da unidade de Deus, ao dizer-se filho de Deus e que havia enfraquecido a fé religiosa favorecendo a revolta. Aqui, irmãos meus, vamos resumir os principais ensinamentos de Jesus; mas não volveremos sobre o caráter de filho de Deus, tão mal interpretado em todos os tempos e que já expliquei suficientemente.
Quando Jesus deixou Jerusalém pela primeira vez e foi a países distantes, adquiriu a certeza de que as religiões não dividiam esses povos, porquanto o amor das artes e das riquezas obtinha a preferência respectivamente a qualquer outra aplicação do espírito. Quando Jesus abandonou Jerusalém pela primeira vez, viu-se livre e feliz no meio dos povos livres e cheios de fantasia. Ele começou proporcionando abundantes consolos e manifestando seu caráter afável e expansivo. De sua doutrina, expôs somente o que era necessário para estabelecer o amor como base do equilíbrio humano, porém não determinou o amor como uma obrigação do completo sacrifício, desde que sabia muito bem que, para homens extenuados pelos gozos mundanos, devia fazer concordar a habitual expansão de seus espíritos com as primeiras exigências da razão do espírito.
Jesus tornava indispensável o amor pela necessidade que tinham os homens de ampararem-se uns aos outros. Acaso o amor não protegia os interesses do pobre, assim como defendia o rico contra os insensatos desejos de igualdade material?
Jesus definia a esperança como um remédio para todos os males. Dirigia os olhares do espírito para a felicidade do porvir, com palavras de misericórdia e de alento. Ele fazia da morte uma luminosa transformação. Pelo espaço de dois anos Jesus evitou as críticas do mundo frívolo e a desconfiança da gente séria. De bom grado escutava-se ao doce profeta, que prometia a abundância aos que proporcionassem alívio aos pobres, que concedia o perdão de Deus aos que perdoassem aos seus inimigos, que anunciava a paz e a felicidade para todos os homens de boa vontade, em nome de Deus, Pai deles. Seguiam-no nos lugares públicos e na plataforma dos edifícios, ao atraente revelador dos destinos humanos, que explicava a igualdade primitiva e a beatífica imortalidade. As jovens levavam-lhe seus filhos e ele os abençoava; os enfermos o mandavam buscar e ele se aproximava deles; os pobres tomavam-no como arrimo e os ricos se detinham para ouvi-lo pregar a fraternidade e o desinteresse. Oferecia-se sempre generosa hospitalidade ao dispensador da graça de Deus e, tanto nas famílias como no meio do povo, Jesus convertia-se no pai, no amigo, no conselheiro e na alegria dos pagãos, aos quais jamais falou do castigo e da cólera divina.
Ele guardou a lembrança consoladora desse tempo no meio da agitação e da tristeza que, mais tarde, o oprimiram. Mas Jesus não podia chamar a atenção do espírito humano sobre as pessoas que o rodearam nesse tempo, e isto porque o espírito humano não teria nenhum fruto que colher do conhecimento das intimidades de Jesus, quando essas intimidades não se encontram ligadas a acontecimentos conhecidos ou que mereçam sê-lo. Conheceu a João, pela primeira vez, na idade de trinta anos e na de trinta e três anos e alguns meses, morreu. João dissipou as irresoluções de Jesus a respeito de sua missão como filho de Deus, e ele prometeu a João que se sujeitaria a algumas práticas externas, se sobrevivesse ao apóstolo, o que mereceu do apóstolo as seguintes palavras:
“Eu sou o precursor, tu és o Messias.
“Esperava-te para continuares a obra e torná-la imortal
“Agradeçamos a Deus que nos reuniu, e fundemos o porvir com o preço das tribulações e das torturas da morte. As tribulações, a morte, serão nossos títulos para a glória imensa, para o poderio eterno”.
João morreu assassinado pelos que ele havia apontado ao desprezo do povo, um ano depois da sua entrevista com Jesus.
Este quis então tomar a direção dos discípulos de João e juntá-los aos seus; porém teria que vencer a obstinação de espíritos sem capacidade e sem grandeza moral pelo que se viu obrigado a renunciar a isso. Jesus o havia dito: seus discípulos de Galiléia somente mais tarde o compreenderam, e sua conformidade verdadeira na fé não teve lugar senão depois da morte daquele que abandonaram, quase todos, no caminho da dor. Mantidos na gratidão pelo respeito que professavam para com a memória de seu mestre, os discípulos de João seguiram-me a distância e deram-me provas de afeto. Dois anos consecutivos trasladei-me às margens do Jordão para observar o jejum e dar a costumada solenidade às práticas de João. Das duas vezes fui acompanhado pelos discípulos de João, cujo número não havia diminuído. Eram quinze e o mais velho presidia as reuniões da doutrina, com o recolhimento a que o havia acostumado seu preceptor de prudência e saber. Estes homens sóbrios e severos davam à virtude as lúgubres aparências de vinganças celestes; depositários da vontade de João, tinham que sofrer pelas contradições que resultavam entre eles e nós. Eles queriam a exterioridade da contrição, o rigor da forma, a evidência do culto, nós a humildade na penitência, a prece do coração, a liberdade dos exercícios religiosos, a abstenção completa de pompas nos sacrifícios e método nos ensinamentos.
De nossos hábitos, de nossa existência alegre com relação à deles, os discípulos de João não tiravam induções tristes para o porvir e continuaram chamando sempre Messias a quem seu mestre havia designado com o nome de Messias.
Repito, os discípulos de João demonstraram-se muito superiores aos discípulos de Jesus. Deixando de lado o fanatismo que afastava o pecador da esperança em Deus e o exagero censurável das práticas, eles possuíam todas as qualidades do espírito que determinam a inviolabilidade da consciência. Os discípulos de João não me acompanharam durante os dias nefastos que precederam ao meu suplício, porquanto encontravam-se dispersos e errantes. Um decreto lançado contra eles, quando me encontrava em Betânia, tinha-os expulsado da Judéia. A perseguição religiosa foi sempre em progressão desde essa época, ela anunciava a ruína de Jerusalém e a decadência do povo hebreu.
Minhas instruções, desde a separação de João até minha partida para Cafarnaum, provam os meus conhecimentos da ciência divina, posto que dirigia-me a homens capazes de me compreenderem. Estes homens, desgraçadamente, eram tímidos aliados ou déspotas depravados, e os primeiros não me podiam amparar senão com a ajuda do povo. Apoiar-me no povo teria sido, tenho disso, hoje, a convicção, criar-me segurança, durante o tempo necessário, para a fundação de minha glória humana como Messias e revelador da lei universal.
Cometi um grande erro ao afastar-me de Jerusalém, e deste erro dimanam as superstições que têm mantido desviados os espíritos do propósito latente de todas as humanidades; a adoração de um só Deus, o amor fraterno, o progresso na adoração e no amor.
Dos ensinamentos de Jesus nessa época, deduzimos que o pensamento que neles dominava, destruía, desde cima até a base, os preceitos da antiga lei para substituí-los pelos da nova. Pronunciaram-se então estas palavras:
“A luz vem de Deus e eu sou a luz. Deus pôs em mim todas as esperanças, no sentido de que a verdade se faça evidente para vós.
“Felizes os que compreendem a verdade. O homem não seria homem, se não tivesse aprendido alguma cousa antes de nascer. Fazei-vos sábios para descobrir o que precedeu à vossa atual existência. O futuro vos será revelado pelo conhecimento que adquirirdes de vosso passado.
“Crede na purificação por meio das provas e jamais duvideis da misericórdia divina; porém guardai bem isto: A purificação opera-se lentamente e a misericórdia divina não poderia contrariar a lei da organização e da desorganização.
“Segui minha lei. Ela diz: Orai em segredo, perdoai a vossos inimigos e ajudai a vossos irmãos.
“Repetir-vos-ei sempre: O que abandona o pobre será por sua vez abandonado. O que mata será morto, o que amaldiçoa será amaldiçoado. Isto é um segredo divino que explica-se, não em uma vida mas em muitas vidas.
“Defendei-vos das superstições inferiores da infância dos povos, que assimilam a Deus com os membros da humanidade,5 e adorai a vosso Pai, sem pedir-lhe que altere cousa alguma de seus desígnios.
“Os homens de boa vontade levantarão um templo a Deus e o reinado de Deus se estabelecerá sobre a terra. Digo-vos: Muitos de entre vós verão o reino de Deus; mas compreendei bem minhas palavras; estas palavras são de todo o tempo, porque o espírito é imortal; a vida sucede à morte; a luz dissipa as trevas; o santo nome de Deus será bendito por toda a Terra.
“Afastai-vos dos falsos profetas. Reconhecê-los-eis facilmente. Eles anunciam sempre a fome, a peste e todos os flagelos. Invocam a cólera de Deus sobre os que tenham prevaricado e sobre os homens que investigam os desígnios deles, para dar a conhecer sua velhacaria. Afirmam que Deus protege seu poder e afetam grandes aparências de virtude, enquanto que seu coração encontra-se sobrecarregado de ódios. Agora vos digo: Deus não tem senão amor para suas criaturas. Ele castiga-as sem pesar para conduzi-las ao arrependimento. Todos colhem em um tempo o que tenham semeado em outro tempo. Todos devem cuidar da sementeira, para que o bom grão não seja abafado pela erva má. Segui a lei de amor e Deus falará a vossos espíritos e vos mandará mensageiros de seu amor. A graça de Deus é obra de justiça.
“Felizes os que desejam a graça e saibam merecê-la. A verdade lhes será revelada e eles a espalharão para confundir os maus e os hipócritas, para instruir os ignorantes, para consolar os pobres e os pecadores, para facilitar aos justos os meios de fundarem o reino de Deus sobre a Terra.
“A verdade se recomenda por si mesma, desde que fala em nome da razão, da igualdade, da fraternidade e da imortalidade, pois que demonstra a felicidade futura, apoiando suas demonstrações na justiça, no amor, na sabedoria do Criador; pois que ela separa a justiça de Deus das ferozes vinganças, o amor de Deus das fraquezas das predileções, a sabedoria de Deus das indecisões e inconstâncias da vontade”.
Irmãos meus, estas instruções, todas elas cheias da chama divina, estas expansões de um espírito penetrado das grandezas espirituais tinham de resultar bastante incompreensíveis para muitos homens, mas estes homens compreendiam a oposição que eu lhes fazia e a todos os abusos de autoridade e amavam-me por isso; mas estes homens diziam que eu era o Messias anunciado pelos profetas e criam em mim. Se eu houvesse consentido em deixar-me rodear e defender e, não obstante meus triunfos populares, houvesse permanecido senhor de mim mesmo, minha morte, inevitável resultado da volubilidade das opiniões humanas, teria sido a consagração da aliança dos mundos e dos espíritos.
Nos preparativos de minha alma para sofrer esta morte, travaram-se grandes lutas dentro de mim mesmo. — Devia eu revelar publicamente minha ciência ou deixar a meus fiéis o encargo de divulgá-la? — O silêncio que guardei acusa-me de uma culpa, não muito grave, qual a de haver abandonado Jerusalém quando era necessário permanecer ali.
Eu devia ter gravado meu aspecto de Messias sobre o porvir, enchendo de espanto a meus verdugos, com palavras que eles teriam sido impotentes para corromper. Eles, do mesmo modo que os propagadores de minha origem celeste, não teriam podido demolir um conjunto de princípios por mim desligados dos erros das primeiras apreciações, e das contradições estabelecidas dentro do propósito da segurança necessária.
Dediquemos, irmãos meus, uma atenção séria às faltas de Jesus. Elas dão a medida das concepções do espírito espiritualizado, porém circunscrito pelas enfermidades humanas; põem em evidência a justiça eterna que concede ao missionário a livre direção de sua tarefa; provam a cegueira da clarividência, a fraqueza da força, a decadência da superioridade, pelo efeito de duas naturezas opostas no mesmo ser. Jesus arrastou o peso destas duas naturezas, e se alguma vez sucumbiu sob a pressão de correntes opostas, sempre se levantou depois da queda, fortalecido pelo pressentimento de sua próxima glória.
Em Cafarnaum e seus arredores, tantas e tantas vezes percorridos por mim, meus ensinamentos se haviam colocado ao nível das pessoas às quais me dirigia. Comecei, a princípio, com máximas isoladas e com conselhos aplicáveis a todas as situações morais e a todos os sofrimentos físicos. Ninguém em Galiléia se ocupava da medicina propriamente dita, porém todos os homens que queriam estar no apogeu para com o povo, deviam estabelecer sua superioridade sobre o mesmo com demonstrações ostensivas de alguma ciência, e a arte de curar era o que excitava, no mais alto grau, a emoção popular.
A Natureza oferecia-me em abundância, nesses campos, plantas preciosas, e guiado por alguns estudos anteriores, obtive êxitos, que mais tarde se tornaram como milagres e exorcismos. Com meus discípulos empreendi excursões nos arredores de Cafarnaum. Visitei sinagogas, estudei a capacidade intelectual do povo e fiz uso, para fazer-me estimar, de uma doçura familiar, que me impelia tanto para as festas quanto para a procura de enfermos e de gente abandonada.
Minhas parábolas se inspiravam nas próprias paixões de meus ouvintes, por meio de um estilo imaginativo e breves comparações. Minhas descrições dos tormentos do inferno, meus êxtases pelas belezas do céu, os exaltavam e acreditavam-me então quando lhes dizia:
“Os que me amam me seguirão e eu os conduzirei à verdadeira vida.
“Eu sou o bom pastor. Quando o bom pastor se apercebe que uma ovelha se extraviou, deixa por um momento as outras ovelhas para procurar a que se perdeu e a conduzir ao aprisco.
“Pedi, e dar-se-vos-á. Batei, e abrir-se-vos-á. Eu sou o distribuidor das esperanças e das consolações”.
Eu misturava com freqüência o que se encontra, entre linhas, na Doutrina pura com os dogmas ortodoxos; porém nas instruções mais íntimas, livrava a Doutrina das obscuridades de que a via rodeada. O anúncio do reino de Deus tornou então a figurar com freqüência em meus discursos e repisei com energia as seguintes palavras:
“Muitos dentre vós verão o reino de Deus.”
Repito, irmãos meus:
“O reino de Deus se estabelecerá sobre a terra e muitos de vós verão o reino de Deus”.
Por que deram às minhas palavras um significado absurdo? — Para descobrir-me em erro ante a presente geração e ante a posteridade. Mas, encontrando-se já claramente definida agora minha doutrina, dai lugar aos homens de boa vontade, vós outros homens intrigantes, homens de má-fé! — Dai lugar à verdade, ela trará novamente à Terra o reinado de Deus!
No décimo quinto capítulo seguiremos os dias dolorosos que levaram Jesus até o Calvário e assistiremos ao grande ato da expiação dos delitos de Jesus.
No capítulo décimo sexto nos ocuparemos da glória do Messias e diremos os motivos que o estimularam para revelar-se agora.
Irmãos meus, eu vos abençôo.
Esta mensagem é parte do livro Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo, da Grande Cruzada do Esclarecimento. Conheça mais sobre o livro Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo. Agradecemos pela leitura e ficaremos muito felizes se o seu desejo for o de compartilhar a mensagem com seus amigos e familiares.
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