A dupla consciência, a recordação do passado e os colpinos - Vida de Jesus Ditada por Ele Mesmo - Parte II - Cap. XXXII

PDF por Nova Ordem de Jesus. 11/05/2016 - 19 min leitura
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A dupla consciência, a recordação do passado e os colpinos

A comunicação que eu dei, poucos dias faz,1 para ser incluída nesta transcendental obra, dada com a sinceridade que me é característica, resultou um tanto dura para o elevado critério do Messias, por sua índole de severa justiça.

Disse-me o Mestre: “Reconheço o mérito e a veracidade de teu trabalho; mas minha obra não é obra de julgamento mas sim de amor”. — “Eu não vim para julgar, senão para semear o amor entre os homens.” — “Guarda-a, pois, em estrita reserva, para os que tenham que levar a cabo o restabelecimento da justiça, no que dela tinha ficado velado pela ação do tempo e da malícia humana; e traze para a obra somente a elucidação dos pontos de que te encarreguei, porquanto a tua comunicação, como as dos outros Apóstolos e a de Maria, constituem capítulos da mesma, como que desenvolvendo-se dentro da ordem e estrita continuidade dela”. — “Graças devo dar a Deus; continua o Mestre, pela estrita verdade conseguida em tudo isso com o médium que me serve de instrumento, pois no livro inteiro não passou uma única palavra que não seja minha, de Maria ou dos Apóstolos, que nele colaboraram.”

“Louvado seja o Senhor que assim consentiu que minha volta entre os homens, desta forma, resultasse tão real e verídica, como se eu mesmo ressuscitado em corpo, vos tivesse falado com meus próprios lábios.”

Confirmadas com o que fica dito, as palavras de Jesus, passarei a ocupar-me do tema que encabeça estas linhas, repetindo somente, com respeito à minha outra comunicação, que deve levantar-se a Judas o cruel julgamento que sobre sua memória pesa, porque sua traição foi unicamente o efeito de sua fraqueza diante das sugestões malignas que continuamente o trabalharam, sob o esforço de interesses inconfessáveis.

Ninguém ignora que há em nós uma dupla consciência, efeito de nosso atraso, a consciência do espírito livre e a do encarnado; ainda devemos admitir uma consciência intermédia, a consciência do espírito do encarnado quando se desdobra, parecendo que, quando dormis ou simplesmente estais distraídos, vossos espíritos se encontram muito longe do corpo, atuando conscientemente fora dele. É claro que não pode existir a recordação da sua atuação, desde o momento que o cérebro não recebeu impressão alguma a respeito dela, sendo sabido que a memória do homem é somente cerebral.

Bem se diria afirmando que o espírito atua com uma nova personalidade em cada encarnação, pois que o cérebro vai recolhendo paulatinamente todas as impressões que lhe chegam do exterior pelo contínuo e agitado movimento do meio que o cerca. Pelos órgãos do ouvido, da vista e do tato, sem cessar se vê impressionada a massa encefálica, onde tudo se grava e se associa de acordo com as diversas circunvoluções que a formam, constituindo-se assim a memória, o juízo e o raciocínio.

Verdade é que tudo isto tem lugar sob o controle do espírito, porém ele, não dispondo de outros meios para a sua realização e manifestação dentro do mundo de que forma parte, deve conformar sua consciência dentro do círculo que tais meios lhe oferecem. Tudo o que o homem tem gravado no cérebro constitui, portanto, as suas recordações, seus conhecimentos e os materiais para a atuação de sua consciência, que resulta, como se vê, muito diferente da verdadeira consciência do espírito.

Para nós não existe a divisão do tempo que regula entre os homens, e somente nos guiamos pela sucessão dos fatos, no meio dos quais temos vivido e que de certo modo forma a parte de nossas atividades; por isso não calculamos as idades e é assim que, fazendo talvez uns trinta e tantos anos, segundo ouvi dizer entre vós, que deixei minha envoltura corporal, parece-me entretanto que ontem vivia ainda com os homens, razão, precisamente, que induziu o mestre a encarregar-me do tema proposto, porque deveria eu elucidá-lo mais humanamente que os outros Apóstolos.

Disse já que na minha última encarnação fui Rafael Fernández, tendo-me ocupado não pouco, ainda quando universitário, de assuntos filosóficos e religiosos, em estreita relação com o cristianismo, fazendo assim justiça ao meu passado e às benéficas influências do Mestre, muito longe estava entretanto de acreditar que tal atuação constituía, de certo modo, uma recordação do que, uma vez deixa-da a matéria, havia de encontrar-me aqui e que muitos sonhos e fantasias de minha vida, que eu considerei faltos de fundamento, constituíam na realidade verdadeiras recordações do passado, resultando assim ter sido mais consciente nos momentos em que me havia considerado privado de toda a consciência. Sem dúvida, em muitas circunstâncias da vida humana nos assaltam, sem nos apercebermos, recordações do passado, sendo que falta-lhes o controle da consciência, como disse João devido a que a consciência humana unicamente pode desenvolver-se dentro dos elementos que lhe emprestam as impressões cerebrais.

Como se vê, a dupla consciência é um efeito natural do esquecimento do passado e é necessário que este vá modificando-se, a fim de que o espírito possa trabalhar com eficácia no sentido do seu verdadeiro progresso.

Paulo descobriu que, o que ele chama desdobramento voluntário, quer dizer, a faculdade de desdobrar-se quando se deseja, durante a vigília, é o que mais ajuda para a recordação do passado. Por isso ele formou escola em tal sentido, indicando os métodos para o caso. Este bom companheiro, apesar da recordação que guarda a respeito do passado,2 chegou a esquecer-se do seu mandato, de tal forma que, devido aos seus estudos e ao ambiente científico que o rodeava, chegou a olhar com desprezo o próprio Mestre, a ponto de apontá-lo como um vagabundo, por não ter lar nem meio de vida conhecidos. Era, dizia, um iluminado ignorante que arrastava massas mais ignorantes do que ele. Eu o digo, porque ele próprio o confessa. Verdade é, segundo afirma, que suas recordações a respeito do passado, recentemente começaram a manifestar-se e com nitidez aos trinta anos, aclarando-se e manifestando-se com muita facilidade depois, devido à sua mediunidade e à faculdade de desdobramento que conseguiu dominar quase por completo.

Três vezes, refere Paulo, em seus desdobramentos não pôde voltar a seu corpo e que, se não fosse pela intervenção dos bons espíritos que o introduziram em seu organismo, com a maior facilidade teria morrido.

Os espíritos aconselham que se avise os Protetores antes de entregar-se um encarnado a exercícios de desdobramento em estado de vigília.

Os espíritos protetores são os que antes se chamavam anjos guardiães, pois se consagram especialmente na custódia dos homens e eles são os que, durante o sono, ajudam os espíritos dos homens a separarem-se da sua envoltura corporal para que deixem por alguns momentos a materialidade da vida humana e gozem de certa liberdade espiritual, comunicando-se com os seres queridos que os precederam no Além e de quem recebem novo alento para as lutas da vida material assim como ensinamentos e conselhos. Certamente que, disto não se lembra o homem ao despertar, porque o cérebro não pode guardar impressões do que não passou por ele, porém sempre fica um reflexo disso, o estado de intuição ou disposição favorável para o que se há de fazer. Não se deve crer que durante estes desprendimentos o espírito do encarnado vá atuar realmente no plano espiritual, mas sim em um plano intermediário a que Paulo chama plano fantasmático ou simplesmente plano extracorporal.

Fantasmático o chama porque é o plano dos fantasmas, esse ambiente em que conseguem tornar-se visíveis os que costumam chamar fantasmas, que as crianças mais sensitivas que os adultos vêem com terror, enquanto que não são mais que espíritos de pessoas vivas, os quais tornam-se visíveis algumas vezes para todos, devido ao corpo fantasmático, que os envolve, formado pelos fluidos vitais do corpo mediante os quais o perispírito se liga ao corpo.

Os fantasmas que são visíveis também podem ser fotografados, como muitas vezes se havia feito já durante a minha última encarnação.

O espírito do encarnado, desdobrando-se, pode dar comunicações aos vivos, mediante a ajuda de seus protetores. Paulo as tem dado umas vezes com este nome e outras, que são a maioria, com o atual nome.

Não deve confundir-se o citado plano intermediário com o que os espíritos chamam zona limite, que separa um plano do outro e cujo ambiente é algo aterrador por sua atividade combatente. Daí vêm geralmente os pesadelos, quando mal desdobrado o mortal, pelo mau estado de sua saúde muitas vezes, o acompanham fluidos afins com tal plano; mas não é esta a oportunidade para tratar de tal assunto, direi antes, que muitas vezes conseguem os protetores, depois de um bom desprendimento, que o encarnado guarde a lembrança de sua atuação durante o desdobramento e então dizeis ter tido um sonho lúcido. Nada se recorda geralmente do sono profundo e é porque o sono unicamente é profundo quando o espírito do encarnado atua distante do corpo. A mediunidade, assim como facilita o desdobramento, facilita a lembrança do passado, do mesmo modo que a influência dos desencarnados é muito maior nos médiuns que nos que não o são. Por outra parte, as boas influências que sempre acompanham as pessoas que sempre levam uma vida regular e de bons procedimentos, favorecem grandemente tudo o que se refere ao medianismo e aos desdobramentos, sem que por isso deixe de ser necessária a prática de tais faculdades para obter seu desenvolvimento. A zona limite encontra-se cheia de espíritos inferiores e também de espíritos sofredores que, por suas condições momentâneas, se encontram à altura desse meio ambiente; sofrem talvez um castigo, ou seus perseguidores, sempre de má-fé, se aproveitam deles, em virtude da malfadada lei de talião, para fazerem sofrer repetidamente suas faltas aos espíritos fracos e imprudentes. Faz-se-lhes recordar a sua dívida, apesar de já a terem pago, exigindo-lhes novo pagamento. É indubitável que os espíritos que assim sofrem purificam-se nesse ambiente e progridem.

A lei de Deus é lei de amor e de progresso, mal pode atribuir-se-lhe portanto a paternidade da lei de talião, lei de vingança e de retrocesso; tudo se paga indubitavelmente e em verdade o mal que se faz aos outros redunda sempre em sofrê-lo por fim o seu autor, mas não da maneira que os homens supõem, pois somente o bem é boa moeda; o sofrimento é conseqüência do mal que se fez, mas o mal feito, unicamente com o bem se redime. Bem disse por isso o Mestre: “Só pelo amor será salvo o homem”.

Na zona limite de que nos temos ocupado, emprega-se uma gíria quase falada, incompreensível para vós. Daí é que vem a palavra colpino e desta deriva-se o verbo colpinar. As enfermidades dos homens, para eles são devidas a colpinamentos. Esses espíritos parasitas que vivem entre os homens e a expensas dos mais fracos são colpinos. Indubitavelmente tudo é um dano, tudo é mal que eles fazem, porém o que é preciso notar é a hipocrisia com que procuram justificar o dano que causam.

A indicada palavra vem de culpa, quer dizer que o colpinado sofre a conseqüência de uma culpa; eles são pois os juizes que avaliam a culpa e a castigam sempre em benefício próprio.

Para nos defendermos destes colpinamentos, que podem realmente dar lugar a um sério mal, encontramos o seguinte: Pode doer ao colpinado um membro ou toda a extensão de um músculo, uma artéria ou um nervo, porém procurando, encontra-se o ponto bem circunscrito, muito mais dolorido. Comprime-se for
temente com um dedo esse ponto enquanto se detém a respiração o mais que se possa, e se repetir a operação várias vezes ao dia, com este processo quase sempre desaparece o mal. Deve-se recordar que, detendo a respiração, se desenvolve uma grande energia magnética.

A região, mais que qualquer outra, escolhida para os colpinamentos é a cabeça, a seguir os intestinos e depois o coração. Pelos intestinos se colpina também o coração e pela cabeça se colpina todo o corpo.

Os homens que levam vida inativa e são de caráter débil vivem sempre colpinados; porém ninguém se livra absolutamente desses parasitas espirituais.

Guardando a lembrança do passado, todas estas cousas se evitariam, ao passo que agora até difícil nos é fazer-vos compreendê-las, porque estais sempre dispostos à incredulidade a respeito do que não podeis ver, pela enorme diferença que existe entre o corporal e o extracorporal.

Desenvolvei, pelo menos, vossas aptidões para o magnetismo curativo, com o qual não somente podeis fazer muito bem mas também chegareis ao mesmo tempo a desenvolver as vossa aptidões psíquicas, porém ao magnetizar, tende cuidado com quem o fazeis, porque se um mau magnetizador transmite um grave perigo, não é menos grave o que ameaça a um bom magnetizador quando pretende beneficiar um ser inferior. É o mesmo que com a caridade, que é preciso ver a quem e como se faz a caridade, para não sermos vítimas, como muitas vezes sucede, do bem que se fez.

Muito estranho vos parecerá o que fica dito e é, porque tendes cheia a cabeça de máximas e teorias que muito longe estão de ser o resultado da prática.

Eis um fato: Entre meus amigos conto com o espírito de uma que foi virtuosíssima irmã franciscana, muito adiantada, ela dizia: “primeiro está a obrigação que a devoção”, e quando havia enfermos pobres para atender, dizia a suas subordinadas: “a missa, a confissão e a devoção, tendo enfermos para atender, são esses mesmos enfermos. — A prática da caridade é a devoção por excelência”.

Devido a tal proceder quiseram tirar-lhe o hábito e dissolver a sua pequena comunidade, porém ela resistiu e, não querendo recorrer à autoridade civil, continuou com sua idéia até morrer. Pois bem, sofre agora muitíssimo pela perseguição de uma multidão de espíritos inferiores por ela favorecidos. Reclamam-lhe, exigem-lhe o que ela lhes não pode dar. Perseguem-na e a oprimem, sem deixar-lhe um momento de repouso. Ela diz: “não tenho forças para afastar esta avalanche de seres inferiores e que se julgam com direito sobre mim porque pela caridade rebaixei-me até seu próprio nível”. “Crêem que o bem que lhes fiz não foi por bondade mas por obrigação que julgam subsistir ainda.” Todos nós cercamos e ajudamos a virtuosa irmã, proporcionando-lhe momentos agradáveis, porém ela terá que voltar à Terra, já o compreende, para desenvolver as faculdades que lhe faltam, entre outras a do são critério de como, quando, e a quem se deve fazer a caridade. E onde está a justiça divina? — se dirá. “Ajuda-te, que Deus te ajudará, é o rifão aplicável aqui.” A justiça de Deus cumpre-se na eternidade. Essa boa irmã não chegou ainda a merecer a felicidade, porém alcançou já muitos títulos para isso.

Com valor e constância, todos chegaremos à meta, entretanto muito há que aprender e experimentar. Muito tino faz falta em todas as cousas, até para fazer o bem, porque este pode converter-se em mal.

Levantando e favorecendo, por exemplo, um malvado com aparência de bom, podemos armar um inimigo do bem, talvez encaminhar um déspota, em seus primeiros passos, para as alturas, para sermos depois suas primeiras vítimas.

Enfim, eu quis com esta modesta comunicação juntar a esta magna obra um tanto prática se se quiser, humana, e em verdade eu próprio termino por julgar-me homem e vivendo no meio de vós.

Seria para mim uma grande felicidade haver atingido meu fim.

Que Deus seja convosco.

MATEUS, Apóstolo.

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